Um paradoxo internacional
A recente eleição de Angola para o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (2026-2028) gerou surpresa e indignação entre observadores internacionais.
Como pode um país onde manifestantes são detidos por exercer o direito à liberdade de expressão e de reunião pacífica ser designado para um órgão cujo objetivo é precisamente defender esses mesmos direitos?
Os direitos humanos no papel e, na prática
A Constituição da República de Angola, no artigo 47.º, garante o direito de reunião e manifestação.
Contudo, na prática, estas liberdades têm sido sistematicamente reprimidas.
Nos últimos anos, diversos ativistas, jornalistas e líderes de movimentos sociais foram detidos por organizarem protestos pacíficos, sobretudo em Luanda e Benguela.
Entre os casos mais recentes estão os taxistas ativistas, manifestantes pró-democracia e jovens do movimento cívico Mudei, que continuam presos ou a aguardar julgamento.
Relatórios da Amnesty International e da Human Rights Watch denunciam uso excessivo da força policial, prisões arbitrárias e intimidação contra defensores de direitos humanos.
A repressão em números e testemunhos
Conforme oRelatório Mundial de 2024 da Human Rights Watch,
“O governo angolano continua a restringir os direitos de liberdade de expressão e reunião, recorrendo à polícia e aos tribunais para silenciar a dissidência.”
Em 2023, pelo menos 45 manifestações foram dispersas pela polícia, e mais de 200 ativistas foram detidos temporariamente por motivos políticos, segundo dados da organização Omunga, uma das mais respeitadas ONG angolanas.
Um desses detidos, o ativista Luaty Beirão, já havia afirmado em 2022:
“Em Angola, pensar diferente ainda é crime disfarçado de desobediência civil.”
A ironia da eleição
No dia 14 de outubro de 2025, a Assembleia-Geral da ONU anunciou que Angola havia sido eleita para o Conselho de Direitos Humanos, para o mandato 2026-2028.
O anúncio foi feito em Nova Iorque e confirmado pelo site oficial das Nações Unidas.
A notícia foi recebida com indignação por organizações internacionais como a UN Watch, que classificou a eleição como uma “contradição moral”.
“Ao eleger governos repressivos, a ONU mina a credibilidade do próprio Conselho”, declarou Hillel Neuer, diretor executivo da UN Watch.
O duplo discurso
O governo angolano afirma ter feito “progressos significativos” em matéria de direitos humanos, sobretudo desde o fim da guerra civil em 2002.
Mas na realidade, a repressão política, a corrupção sistémica e a desigualdade social continuam a marcar o quotidiano da maioria dos angolanos.
O discurso oficial de modernização e transparência choca com a dura realidade das ruas: jovens desempregados, famílias em pobreza extrema, e um Estado que responde com violência quando o povo exige dignidade.
Reações da sociedade civil
Nas redes sociais, a reação foi imediata e contundente.
Um comentário no Twitter/X resume o sentimento geral:
“Como pode Angola proteger direitos humanos no estrangeiro quando não os respeita em casa?”
Vários movimentos cívicos angolanos, como o Mudei e o Mbinda, pediram uma reavaliação da candidatura e exigiram da ONU critérios mais rigorosos de elegibilidade.
Entre o poder e a consciência
Angola tem agora uma oportunidade histórica: mostrar ao mundo que é capaz de se transformar.
Mas isso só será possível se o governo deixar de prender manifestantes e começar a ouvir as vozes do povo.
Integrar o Conselho de Direitos Humanos é um privilégio que exige coerência e transparência.
E isso começa em casa.
Fontes confiáveis
UN Watch – Angola eleita para o Conselho de Direitos Humanos
Constituição da República de Angola (CRA), Artigo 47.º)


Como pode Angola integrar o Conselho de Direitos Humanos da ONU enquanto oprime o seu próprio povo?
Por Paulo Muhongo
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POLITICA
10/20/20253 min ler