Angola é um país de riquezas naturais, rios caudalosos e diversidade cultural, mas também de uma história marcada por violência política e repressão sistemática. Desde 1975, o MPLA controla o Estado com um aparato que combina propaganda, policiamento político e controle de instituições.
Os episódios relatados a seguir representam padrões de violência e impunidade que atravessam décadas, desde assassinatos de líderes políticos até desaparecimentos e tortura de civis comuns. Esta série investiga nove casos emblemáticos de repressão política e violação de direitos humanos, com base em relatórios internacionais, imprensa confiável e relatos de testemunhas.
Caso 1 — Os Ativistas do Movimento Pró-Democracia (Novembro 2015)
Quem eram
Jovens universitários e profissionais, conhecidos como o grupo “Angola 15”, liderados por Henrique Luaty Beirão, Manuel Nito Alves e Nuno Álvaro Dala, organizaram protestos pacíficos exigindo liberdade de expressão, reforma eleitoral e combate à corrupção.
Cronologia dos acontecimentos
Maio–Junho 2015: Reuniões semanais na Livraria Kiazele, Luanda, para debater meios pacíficos de protesto.
Junho 2015: Prisão preventiva de 17 ativistas; dois outros permanecem em liberdade sob acusação similar.
16 Novembro 2015: Início do julgamento no Tribunal Provincial de Luanda, com restrições severas de acesso a jornalistas, diplomatas e familiares.
Contexto e repressão
O governo enquadrou o debate político pacífico como “preparação para rebelião” e “conspiração contra o Presidente”. A imprensa internacional denunciou a restrição de cobertura como violação do direito a julgamento público.
Análise de direitos humanos
Segundo a FIDH, o caso evidencia criminalização do ativismo pacífico e controle estatal sobre o judiciário.
Caso 2 — Assassinato de Mfulupinga N’Lando Victor (2 Julho 2004)
Perfil da vítima
Professor universitário e matemático
Fundador e presidente do PDP-ANA
Deputado da Assembleia Nacional
Detalhes do assassinato
Local: Bairro de Cassenda, Luanda
Método: Tiros de AK, em plena via pública, após reunião política
Testemunhos: Vizinhos relataram disparos múltiplos, pânico e fuga de moradores
Reação da comunidade e organizações
O PDP-ANA denunciou que o MPLA ordenou o assassinato, considerando Victor uma ameaça à permanência no poder
A mídia independente destacou a ausência de investigação real e a inação das autoridades
Defesa do regime
O MPLA classificou o incidente como caso isolado, sem provas concretas contra membros do partido ou do governo.
Relevância histórica
A morte de um líder de oposição, com exposição pública e impunidade, ilustra padrões de perseguição política sistemática em Angola.
Caso 3 — “O 27 de Maio” e os Massacres Silenciados (1977)
Contexto histórico
Tentativa de golpe liderada por Nito Alves contra o presidente Agostinho Neto
Tropas do MPLA, com apoio cubano, desencadeiam repressão massiva
Impacto humano
Estimativa de 30.000 mortos (Amnesty International)
Prisões, torturas e execuções em bairros como Sambizanga
Sobreviventes relatam trauma contínuo e ausência de justiça
Padrões de repressão
Desaparecimentos forçados
Limpeza étnica parcial contra dissidentes
Criação de precedentes para a repressão de futuras manifestações
Negativa oficial
O MPLA descreveu os eventos como ações de manutenção da ordem, negando a existência de massacres sistemáticos.
Caso 4 — Assassinato de Alberto Chakusanga (6 Setembro 2010)
Perfil
Jornalista crítico do regime
Apresentador da Radio Despertar, em língua umbundu
Circunstâncias da morte
Encontrado morto em sua residência em Viana, Luanda, com um tiro nas costas
Nenhum suspeito identificado, investigação não divulgada
Reação internacional
CPJ (Committee to Protect Journalists) condenou o assassinato e exigiu investigação completa
Defesa do governo
O MPLA prometeu apurar o caso, mas nenhuma medida concreta foi tomada, reforçando clima de impunidade.
Caso 5 — Tortura de uma Mulher Idosa em Cabinda (2 Março 2003)
Quem era
J.M., 55 anos, curandeira tradicional da aldeia Ntsaca
Detalhes da tortura
Presa em um fosso por três dias
Espancada 80 vezes com facão
Forçada a guiar militares até seus irmãos acusados de pertencer à FLEC
Justificação do regime
Alega-se combate a separatistas; a vítima sobreviveu, mas permaneceu sob medo contínuo
Comentário de direitos humanos
Caso emblemático de tortura física e psicológica, violação de direitos humanos básicos e abuso de poder militar.
Caso 6 — Assassinato de Rafael Chidundo (10 Agosto 2007)
Perfil da vítima
Agricultor, residente em Chimpemba, Buco-Zau
Pai de seis filhos
Desaparecimento e execução
Detido durante patrulha militar
Nunca retornou para casa; familiares não obtiveram informações
Relevância
Exemplo de desaparecimento forçado em zonas rurais sob controle militar do MPLA.
Caso 7 — Tortura de Civis em Cabinda (12–13 Agosto 2006)
Quem eram
Maurício Mbizi, Bonifácio Nzau, José Deus-Dado, entre outros
Métodos de repressão
Espancamento, interrogatório e tortura física
Cooperação de empresas estrangeiras (Chevron-Texaco) para controle local
Impacto social
Intimidação de associações de direitos humanos e imposição do medo entre civis
Caso 8 — Assassinato de Tatinho Garcia Saianganhi (12 Setembro 2010)
Quem era
Jovem de 20 anos, Lunda-Norte
Circunstâncias
Alvejado por militares do MPLA
Corpo lançado no rio Cuango
Motivo alegado pelo governo: atividade ilegal em mineração
Comentário internacional
O caso evidencia impunidade e uso excessivo da força contra civis.
Caso 9 — Assassinato de José Gabriel Puati (29 Dezembro 2007)
Quem era
Jovem de 24 anos, residente em Caio-Contene, Cabinda
Circunstâncias
Detido após ataque da FLEC, espancado e assassinado por tropas do MPLA
Familiares e líderes comunitários permanecem desaparecidos
Padrão sistêmico
Uso de força militar para justificar mortes
Ausência de investigação judicial e responsabilização
Conclusão
Estes nove casos ilustram um padrão persistente de violência política e impunidade. O MPLA utiliza o poder militar, policial e judiciário para manter controle, criminalizando a dissidência e ignorando direitos humanos básicos.
A investigação detalhada, combinada com relatos de sobreviventes e imprensa internacional, reforça que a justiça em Angola permanece refém do partido-Estado, e a responsabilização é quase inexistente.
Fontes


Os Casos de Crimes Contra a Humanidade Silenciados em Angola
Por Paulo Muhongo
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Como será possível construir uma sociedade livre e democrática em Angola se casos de tortura, assassinatos e desaparecimentos continuam sem solução?
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POLITICA
11/3/20254 min ler
