Em tempos de fome, desigualdade e desesperança, as luzes do Palácio Presidencial continuam a brilhar. Medalhas são entregues, discursos são lidos com solenidade e câmaras captam sorrisos protocolares.
Enquanto isso, o povo — que sobrevive entre a inflação, o desemprego e o estômago vazio — observa à distância, perguntando-se: que valor têm as condecorações quando o prato está vazio?
Este artigo aprofunda a análise de uma política marcada por símbolos de poder em contraste com uma realidade social em colapso, integrando a visão de analistas, economistas e especialistas em governação.
Contexto social e económico de Angola
A pobreza estrutural
Segundo o World Food Programme (WFP), mais de 50% da população angolana vive com menos de US$ 3,65 por dia. (WFP Angola)
O Afrobarometer revelou em 2024 que 44% dos angolanos relataram pobreza vivida, refletindo uma tendência de aumento desde 2019. (Afrobarometer Angola)
Analistas comentam:
Isabel da Silva, socióloga do Centro de Estudos Africanos, observa: “A desigualdade não é só econômica, é também política — o acesso a serviços básicos é seletivo, beneficiando quem está próximo do poder.”
António Cardoso, economista da UNITA Economics Institute, alerta: “O crescimento do PIB petrolífero não reflete melhorias reais para o cidadão comum — o país continua dual, com elites desfrutando do luxo enquanto a maioria enfrenta miséria diária.”
Consequências da crise social
Falta de transporte público confiável;
Escolas sem carteiras e materiais;
Hospitais com escassez de médicos e medicamentos;
Crianças subnutridas, especialmente no Cunene e Huambo;
Jovens com formação superior a trabalhar em ocupações informais.
Condecorações: símbolos de prioridades invertidas
O luxo simbólico em contraste com a miséria
Enquanto ruas e bairros periféricos enfrentam apagões e falta de água, o Estado realiza cerimônias de condecorações que ocupam o espaço midiático. A Africa Press denunciou que “várias figuras condecoradas nem valem o chão que pisam”, recebendo distinções por laços partidários e não méritos.
Análise política
João Lourenço concentrou o poder simbólico, mas não transformou o poder social.
Cerimônias reforçam a imagem de um governo que celebra o status quo enquanto a população continua a sofrer.
Analistas afirmam que o efeito é perverso: o poder cria um teatro de legitimidade, distraindo da falta de políticas concretas.
A inflação e o aumento da fome
Em julho de 2025, o corte de subsídios aos combustíveis elevou o custo de vida, provocando protestos e confrontos. Segundo a Reuters, houve mortos, feridos e centenas de detidos. (Reuters)
Impacto imediato na população:
Aumento do preço do transporte;
Escalada do preço de alimentos básicos;
Agravamento da pobreza urbana.
Analistas comentam:
Mário Simão, especialista em políticas públicas, considera que “ações simbólicas como medalhas têm efeito nulo sobre o dia a dia das famílias; a prioridade deveria ser o abastecimento e o emprego.”
Lúcia Mendes, da ONG Friends of Angola, conclui: “O governo está a ignorar sinais de alerta de crise social, preferindo simbolismo a ação concreta.”
O silêncio sobre a corrupção
O combate à corrupção, promessa central de João Lourenço em 2017, perdeu força, segundo o Angola 24 Horas. Hoje, atos protocolares e declarações de intenção substituem ações efetivas. (Angola 24 Horas)
Analistas observam que a luta anticorrupção foi parcialmente instrumentalizada para enfraquecer adversários internos.
O público percebe pouco progresso: a impunidade persiste e a redistribuição de recursos não melhora a vida das famílias.
Contraste entre luxo e miséria
O país produz mais de 31 mil milhões de dólares por ano em petróleo, mas cerca de 40% das crianças permanecem subnutridas. (Le Monde)
Luanda: torres modernas versus musseques esquecidos;
Subúrbios: falta de saneamento, eletricidade instável, refeições escassas;
Províncias: acesso precário à saúde e à educação.
Analistas:
Fernando Lopes, politólogo, afirma: “A economia dual cria frustração e instabilidade social; o poder continua a premiar os já privilegiados.”
Isabel da Silva reforça: “O simbolismo político das medalhas é um mecanismo para manter elites coesas, não para servir o povo.”
A dimensão ética do problema
A indiferença do Estado perante a miséria não é apenas econômica — é ética e moral.
O poder que distribui medalhas enquanto o povo passa fome é um poder que perdeu legitimidade na percepção social.
Alternativas e propostas
Redirecionamento de recursos: cortar gastos com eventos protocolares para investimento social direto;
Critérios transparentes: medalhas para quem realmente contribui com melhoria social;
Fortalecimento da mídia independente: TPA deve servir ao povo, não ao partido;
Investimento em infraestrutura: transporte, escolas, hospitais;
Reforma econômica estruturante: diversificação da economia, agricultura, pequenas indústrias;
Combate real à corrupção: auditorias independentes e responsabilização das elites.
Reflexão final
As medalhas de João Lourenço só terão valor quando refletirem justiça social, serviços concretos e melhoria da vida das famílias.
Até lá, continuam sendo símbolos vazios.
E o povo, paciente mas crítico, observa: fome não se combate com discursos, dignidade não se restaura com cerimônias.
Fontes Consultadas (para aprofundamento)


Enquanto o Povo Passa Fome, João Lourenço Distribui Medalhas
Por Paulo Muhongo
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Enquanto o Povo Passa Fome, João Lourenço Distribui Medalhas
Angola enfrenta uma crise sem precedentes: fome, desemprego e desigualdade crescem, enquanto João Lourenço distribui medalhas a elites já privilegiadas. Um artigo profundo e corajoso que questiona o simbolismo do poder, a ausência de políticas públicas e o silêncio diante do sofrimento do povo.
POLITICA
10/29/20254 min ler
