Luanda, 16 de Novembro de 2025
O futebol angolano viveu um momento de glória simbólica no dia em que os Palancas Negras receberam a Argentina, numa partida que marcou os 50 anos da independência de Angola. A presença de estrelas internacionais como Lionel Messi prometia um espetáculo memorável. Mas, fora das quatro linhas, o que se destacou foi uma polémica que revelou falhas institucionais e um aparente desrespeito pelos ex-jogadores que ajudaram a construir a história do futebol nacional.
A Voz de Akwá: Indignação e denúncia
Fabrice Akwá Maieco, lenda viva dos Palancas Negras e maior goleador da sua geração, falou publicamente sobre a exclusão de ex-internacionais do evento. Akwá afirmou que muitos veteranos não receberam convites ou bilhetes, mesmo com meses de antecedência. Segundo ele, esta situação demonstra que os antigos jogadores não estavam nos planos da Federação Angolana de Futebol (FAF).
Carlos Alonso “Kali”, vice-presidente das seleções e membro da associação de ex-internacionais, foi apontado por Akwá como responsável pela falha. “Não estou a ver eu a casar e entregar os convites do meu casamento a faltar um dia para a festa”, afirmou Akwá, resumindo a frustração de toda uma geração de heróis esquecidos.
A comercialização dos bilhetes e a indignação dos adeptos
A distribuição dos ingressos para o jogo também gerou críticas. A FAF anunciou 48 000 bilhetes, mas informou que estavam esgotados antes do término da venda. Torcedores reclamaram da falta de transparência e denunciaram uma possível rede de revenda de ingressos a preços inflacionados. Alguns compraram bilhetes a 1 500 kwanzas e revenderam por 45 000 a 50 000 kwanzas, o que gerou revolta entre os fãs.
Além disso, o custo do evento levantou questões. A presença da comitiva argentina, incluindo Messi, custou milhões aos cofres públicos, e muitos questionam se esses recursos não poderiam ter sido direcionados para prioridades nacionais como saúde e educação.
Segurança, feridos e protestos
O dia do jogo não passou sem incidentes. Pelo menos 70 pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia antes e depois da partida no Estádio 11 de Novembro. Alguns adeptos protestaram contra a forma como os ingressos foram distribuídos, enquanto outros expressaram descontentamento político, incluindo vaias ao presidente João Lourenço.
Este clima mostra que o problema não se limita ao futebol, mas envolve também a percepção pública de gestão e justiça social.
Entrevistas simuladas: vozes do futebol angolano
Para compreender melhor a dimensão do problema, imaginemos algumas vozes do meio futebolístico:
Ex-jogador veterano (anonimato solicitado): “Treinei, representei Angola com orgulho e esperava ser convidado. Ver outros com facilidade de acesso enquanto nós somos esquecidos é doloroso.”
Especialista em gestão desportiva: “A FAF falhou em planeamento e comunicação. Eventos simbólicos devem envolver ex-atletas não apenas como convidados, mas como parte central da narrativa do futebol nacional.”
Historiador do desporto: “A memória do futebol angolano depende do reconhecimento daqueles que construíram a sua história. Ignorar os ex-Palancas Negras é apagar parte da identidade nacional.”
O simbolismo esquecido
A ausência de veteranos no evento levantou questões sobre respeito e legado. Akwá e outros ex-internacionais são símbolos de conquistas históricas, incluindo a participação no Mundial de 2006, o que permanece como um marco no futebol africano.
A comemoração dos 50 anos da independência deveria unir passado e presente, mas a falta de consideração pelos antigos jogadores mostra que o espetáculo prevaleceu sobre a memória e o reconhecimento histórico.
Análise crítica: gestão desportiva e prioridades nacionais
A situação evidencia falhas institucionais claras:
Transparência e planeamento insuficientes - Eventos de grande importância requerem logística detalhada, comunicação antecipada e respeito pelos protagonistas históricos.
Legado histórico negligenciado - Convidar estrelas internacionais não substitui o reconhecimento daqueles que construíram a história local.
Prioridades nacionais questionáveis - Milhões investidos no evento levantam dúvidas sobre alocação de recursos em um país com desafios sociais significativos.
Conclusão
A polémica em torno do amistoso Angola-Argentina vai além do futebol. Ela revela falhas institucionais, falta de respeito pelo legado de ex-jogadores e questiona prioridades na gestão de recursos públicos.
Akwá, ao denunciar o descaso da FAF, acende um alerta sobre a necessidade de valorizar quem construiu a história do futebol angolano. Se a federação pretende evitar que este episódio fique marcado como um exemplo de falha institucional, terá de dialogar com os veteranos, reformar processos internos e garantir que o passado do futebol seja parte do presente e do futuro.


O Desprezo dos Ex-Palancas Negras na Celebração dos 50 Anos de Independência
Por Paulo Muhongo
💬 E você, o que pensa?
A FAF deveria ter priorizado os ex-jogadores históricos em eventos comemorativos, mesmo que isso custasse mais tempo e recursos?
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